terça-feira, 10 de junho de 2008

Memento Mori





Não existe nada mais solitário do que estar vivo, existe ?


Estar morto, talvez ?

Não... Não creio nisso. Ao morrermos, estamos compartilhando com um bilhão de pessoas a mesma experiência: o doce beijo da morte. Ouso dizer que é a primeira vez e, ironicamente, a última em que temos uma experiência legitimamente conjunta. A derradeira fuga do ostracismo onde estávamos reclusos desde o primeiro lampejo de consciência do nosso ser. Quando deixamos o conforto, segurança e solitude da ostra de nossa individualidade para nos confrontarmos com a inevitabilidade de nosso destino final: o nada infinito.


Quer dizer que você vê a morte como uma experiência única para todos os seres, e não como um fenômeno individual e subjetivo ?

É a isso que sou levado a crer quando penso em como será a sensação de termos nosso sistema nervoso central subitamente desligado. Deixamos de lado toda a solidão das experiências puramente individuais e egocêntricas para nos fundirmos, qual gota no oceano, à eternidade da não-existência.

Sabe cara... esse papo ta me lembrando daquele lance dos cabelos das crentes.

Que lance dos cabelos das crentes ?

Ah... você sabe... o fato delas não cortarem seus cabelos para poderem, no dia do juízo final, serem agarradas mais facilmente pelos anjos e levadas para o céu, não importando quantos pecados cometeram em vida ou quantas ações trabalhistas desleais moveram para com os seus empregadores.

...

Porra meu... eu to aqui dando uma idéia séria sobre a experiência humana mais universal e misteriosa da humanidade e você vem me falar de cabelo de crente ?

Po, foi mal ai. Sabe como é... uma coisa leva a outra...

...

...

Mas, e os homens ? Eu nunca vi um homem crente de cabelo comprido. Como isso se encaixa ?

Sei lá... vai ver eles preferem ir pro inferno do que passarem a eternidade no nada infinito ao lado de um bando de malucas cabeludas.

Sim... eu preferiria...




2 comentários:

marisa disse...

CARPE DIEM!Talvez o segredo desta vida seja esse :viver o dia como se fosse o ultimo!E isto porque a MORTE é nossa mais fiel companheira! Em japonês ISSHOUKENME. É através dessa consciência da sua finitude,que cada vez mais nos apaixonamos pela vida,parceiras inseparáveis,irmãs siamesas.E só com Pathos (que significa paixão em grego) que passamos a lutar com garras pelas realizações de nossas metas,nossos sonhos,e sentir uma intensa felicidade que vem do fundo de seu ser.O nirvana,o paraíso dos vikings,tinha amor,comida e bebida com farturas,e a guerra! Sábios!,pois lutar apaixonadamente por algum desejo,ideal,ou sonho,é o que faz a vida valer a pena! Como numa frase muitas vezes repetidas de meu poeta preferido "Tudo vale a pena,se a alma não for pequena".

Brindemos a morte,meus amigos! E vivam a vida intensamente!

OBSERVAÇÂO:
1)
"Tal pensamento, longe de se encaminhar para a apologia do homem e de seus feitos, revela o pathos, o espanto que surge na confrontação com o limite humano, confrontação com o limite do que pode ser visto ou sabido acerca da condição humana. Como Lacan em Ética da Psicanálise coloca: “Uma ética se anuncia, convertida ao silêncio pelo advento não do pavor, mas do desejo.” A ética da psicanálise diz respeito à interpretação do desejo inconsciente que implica “o sujeito na responsabilidade de uma escolha. Isto quer dizer que há ética onde há escolha, decisão.” (SOUZA LEITE, 2005)"
Retirado de um artigo de Maria Virgínia Filomena Cremasco.

2)Obrigado!
Oh captain,my captain!
Captain Jack Sparrow!

Anônimo disse...

Faz muito sentido, isso.
A única coisa que me deixa triste sobre a morte é o fato de (talvez) tudo o que a pessoa pensou e sentiu, tudo o que ela estudou, vai embora... like tears in rain (adoooooooooro Blade Runner).
Mas de resto, façamos igual à Marisa: brindemos à morte e vivamos intensamente :)
Beijo beijo ;******************