Te mordo e mastigo um pedaço teu
Me enrolo no que sobrou de ti
com teus restos construo um útero
onde me aconchego e fujo do mundo.
Torna-me um ser privilegiado
ao apresentar a mim tamanha transformação
o espetáculo conduzido por um ser tão belo e fatigado
prestes a abrir suas asas numa brilhante, violenta e constante renovação.
Rouba-me as palavras
e a única coisa pela qual anseio
são teus braços ao redor do meu corpo
o envolvendo e paralisando...
...
e me falha a voz
roubada pela ansiedade provocada por teu encanto.
Meus braços, ao redor do teu corpo
envolvendo a alma tímida e cativa
protegendo-o de todas as intempéries
de uma natureza selvagem e ativa.
Um pedaço de mim
alimenta teu interior
e tua metamorfose movimenta.
Outro pedaço de mim
envelhece, resseca e amarela
e tua metamorfose acalenta.
E a única motivação para nosso encontro
é o nosso selvagem amor.
E, juntos, desafiamos o mundo
em prol do nosso instintivo amor.
E nos tornamos um só
deixando para trás nossas velhas roupas coloridas
a folha, outrora verde, hoje amarelada
e a pele negra da lagarta, ontem avermelhada.
E as recém-criadas asas da liberdade cruzam o ar
abertas, em uníssimo com a vida
nos levando atrás de um novo amor
um amor na forma de uma suculenta flor.
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